O Governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, durante discurso a oficiais da Polícia Militar. (02/02/2023) Foto: Mônica Andrade/Governo do Estado de SP

Estratégias do governo Tarcísio e a priorização de interesses da elite


A recente metamorfose do Estado de São Paulo em um reduto bolsonarista, no pior sentido do termo, é um fenômeno que não apenas causa perplexidade, mas também suscita profunda preocupação. Essa transformação é sintomática de um movimento maior, que se apoia na absorção dos aspectos mais questionáveis do governo Bolsonaro, levando a sérias implicações para a sociedade paulistana, especialmente diante da recente troca de comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMSP).

O governo de São Paulo, sob a égide de Tarcísio de Freitas, parece ter incorporado uma dívida de gratidão com o bolsonarismo, uma aliança fortalecida pelo capital político herdado das eleições que o catapultaram ao poder. Essa postura não é meramente simbólica; ela tem consequências tangíveis, particularmente em termos de políticas públicas e de gestão da segurança pública, um dos pilares da governança estadual.

A derrota de Fernando Haddad e a ascensão do bolsonarismo em São Paulo são retratadas como um marco estratégico, permitindo ao bolsonarismo fincar raízes em um território de imensa relevância econômica e política. Esta consolidação é duplamente simbólica e prática, fornecendo uma plataforma robusta para futuras aspirações políticas, incluindo a tentativa de Tarcísio de Freitas de alcançar a presidência em 2026.

O que era para ser uma vitória para o bolsonarismo, com a derrota de Fernando Haddad em 2018, acabou se transformando em seu maior revés.

A estratégia adotada pelo governo paulista, focada em atender aos desejos da elite local por meio de privatizações abrangentes, revela uma visão de desenvolvimento que prioriza interesses específicos em detrimento do bem-estar coletivo. Esta abordagem não só amplia a concentração de renda como também desmantela estruturas de proteção ao trabalhador, comprometendo direitos sociais e laborais.

A troca de comando na PMSP, dentro deste contexto, é especialmente alarmante. A Polícia Militar, uma instituição central na manutenção da ordem pública e na proteção dos cidadãos, encontra-se no epicentro deste processo de transformação. Mudanças em sua liderança, motivadas por afinidades políticas e ideológicas, podem ter implicações profundas na forma como a segurança é percebida e praticada no estado. Isso coloca em questão não apenas a autonomia e a eficácia da PMSP, mas também o princípio da neutralidade política da força policial, essencial para a manutenção da democracia e do estado de direito.

Este cenário suscita um debate necessário sobre o futuro de São Paulo e, por extensão, do Brasil. A adoção de uma postura crítica, voltada para a preservação dos direitos fundamentais e da justiça social, é imperativa. Enquanto São Paulo navega por essas águas turbulentas, a sociedade paulistana deve permanecer vigilante, exigindo transparência, responsabilidade e, acima de tudo, um compromisso inabalável com os princípios democráticos. Afinal, as consequências dessas transformações não se limitarão às fronteiras estaduais, mas reverberarão por todo o país, definindo o contorno de nossa democracia nos anos vindouros.